Pesquisar neste blog:

Páginas

domingo, 21 de fevereiro de 2016

1966 - o começo da psicodelia

Entramos em um novo ano e a série de posts comentando os principais lançamentos do passado já começa. Este ano, resolvi voltar ainda mais no tempo: falaremos de alguns lançamentos de 50 anos atrás!! São os primórdios da psicodelia e do blues rock britânico, que tanto influenciaram a música que nós amamos. Então vamos viajar no tempo, de volta ao ano de 1966!

O ano de 1966 marca o começo da psicodelia, com as primeiras bandas primordiais do movimento surgindo e crescendo em San Francisco, cidade capital do estilo (em especial, o distrito conhecido como Haight-Ashbury). É lá que acontecem as primeiras festas com uso de LSD. Os Beatles já traçavam seu caminho experimentando muito no estúdio e sendo seguidos de perto pelos Beach Boys, e não tão de perto pelos Rolling Stones. Outras bandas britânicas que seriam importantes no movimento estavam surgindo, valendo citar o Cream e o Pink Floyd. Fora do mundo musical, as experimentações científicas eram muitas, impulsionadas pela Guerra Fria entre os EUA e a União Soviética. A corrida espacial, até então liderada pelos soviéticos (que colocaram, neste ano de 1966, a sonda espacial Luna 10 na órbita lunar), começa a equilibrar, com os norte-americanos fazendo avanços importantes com a NASA. Alguns anos mais tarde, os EUA alcançariam a supremacia com o pouso lunar. Nas artes, o mundo viu o primeiro episódio da série Jornada nas Estrelas, e também perdeu o grande Walt Disney. Um pouco relacionado com as artes foi o acidente com o mergulhador Carl Brashear, que acabou causando a amputação de uma de suas pernas. Para quem ainda não fez a associação, esta é a estória contada no filme "Homens de Honra", estrelado por Cuba Gooding Jr, e Robert De Niro. Na política, os EUA estavam aumentando substancialmente sua presença militar no Vietnã do Sul e bombardeando fortemente o norte. As primeiras manifestações anti-guerra começam a acontecer, incluindo um discurso de Martin Luther King. Na América do Sul, o Brasil continuava na ditadura (ainda branda, antes do famigerado AI-5) e a Argentina entrava em uma ditadura militar, permanecendo assim até 1973, quando o peronismo conseguiu retornar ao poder. Nos esportes, foi ano de Copa do Mundo, disputada na Inglaterra, e vencida pelos donos da casa, com direito a um gol polêmico na prorrogação. Nosso Brasil foi à disputa com uma seleção envelhecida e acabou eliminada pelos portugueses, que conseguiram sua melhor colocação graças ao craque Eusébio.

Sem mais delongas, vamos a alguns importantes lançamentos de 1966!

The Rolling Stones - "Aftermath" - assim como aconteceu com os Beatles, os Rolling Stones moldaram sua sonoridade coverizando um monte de artistas nos primeiros singles e álbuns. Após alcançar finalmente o primeiro lugar da parada norte-americana no ano anterior (com o clássico "(I Can't Get No) Satisfaction"), o ano de 1966 viu a banda lançando este disco exclusivamente com composições próprias, da dupla Mick Jagger / Keith Richards. Além de utilizar apenas suas próprias composições, a banda ainda experimentou muito no estúdio, utilizando diversos instrumentos não usuais no rock, cortesia de Brian Jones. É dele a cítara em "Paint It Black", por exemplo. Outros destaques do álbum ficam para as canções "Mother's Little Helper", "Lady Jane" e "Under My Thumb". Os Rolling Stones passariam por diversos problemas no ano seguinte, 1967, quando tiveram problemas com as autoridades, pelo uso de drogas (Jagger, Richards e Jones chegaram a ser presos e condenados) e pelos desentendimentos entre Jones e Richards, que trocaram de namorada (Anita Pallenberg, que ficou com Richards por mais de uma década). Um ano quase perdido, que seria compensado pelo ano de 1968, quando a banda entrou na sua era de ouro, lançando um disco clássico após outro e alcançando o status de maior banda de rock and roll do mundo. Status que eles mantém até os dias de hoje, enquanto continuam a excursionar pelo mundo inteiro, mesmo com idade avançada (os membros da banda já estão com mais de 70 anos!). Longa vida aos Rolling Stones e sua obra!!

The Small Faces - "Small Faces" - este foi o álbum de estreia desta banda que talvez possa não ser tão popular quanto as demais presentes neste post, mas traz muita importância. O Small Faces foi, junto com o The Who, um dos maiores expoentes do movimento mod. A banda durou pouco tempo (na sua formação original, apenas quatro anos, de 1965 a 1969), mas influenciou bastante com sua música. E os seus membros acabaram formando outras bandas igualmente importantes nos anos 70. Formada por Steve Marriott na guitarra e vocais; Kenney Jones na bateria; Ronnie Lane no baixo e Ian McLagan nos teclados, este primeiro disco traz um rock seminal, calcado no R&B e em melodias impactantes, e já impressionando bastante. Destaque para as faixas "Come On Children", "Watcha Gonna Do About It" e um de seus maiores sucessos, "Sha-La-La-La-Lee". A banda alcançaria seu maior sucesso no ano seguinte, e depois acabaria declinando rapidamente, levando o vocalista Steve Marriott a sair da banda e criar uma nova: o Humble Pie, ao lado de outro talento da época, Peter Frampton. Os membros restantes se juntariam a Ron Wood e Rod Stewart (oriundos do Jeff Beck Group) e formariam o The Faces, banda muito importante dos anos 70. Alguns membros chegaram a se reunir sob o nome Small Faces e gravaram alguns álbuns, mas sem o brilho dos discos passados. A maioria dos membros da formação original já faleceu: Steve Marriott faleceu em 1991, vítima de um incêndio; Ronnie Lane faleceu em 1997, de complicações de uma esclerose múltipla; e Ian McLagan faleceu em 2014, vítima de um AVC. Somente o baterista Kenney Jones (que já tocou com o The Who, logo após a morte de Keith Moon) continua vivo. Se você não conhece, recomendo que você procure conhecê-los e, se possível, as bandas que se formaram depois - todas de primeira qualidade!

Bob Dylan - "Blonde On Blonde" - este álbum veio como o sucessor de "Highway 61 Revisited", um dos maiores álbuns de rock de todos os tempos, e não fez feio. O início da gravações se deu em New York, mas Dylan e sua turma se mandaram para Nashville para terminar o álbum por lá, contando com o apoio de diversos músicos de estúdio. Vale lembrar que este foi um dos primeiros álbuns duplos da história do rock, e o primeiro a contar com o guitarrista Robbie Robertson, que mais tarde iria fundar a banda simplesmente chamada The Band, que iria lançar discos muito importantes no final desta década, em especial o álbum "Music From Big Pink". Voltando ao disco de Dylan, ele traz uma deliciosa combinação de seu tradicional estilo folk, sua voz única, aliada de uma grande gaita (cortesia do próprio Dylan e de Charlie McCoy, um dos músicos chamados para tocar no álbum, já tocou com Elvis Presley e muitos outros), fortes pitadas de blues, e músicos do primeiro escalão entregando grandes performances no estúdio. Destaque para as canções "Pledging My Time" (um blues com gaita delicioso), a clássica "Visions Of Johanna", "I Want You" e sua pegada country,  "Leopard-Skin Phil-Box Hat" e "Obviously Five Believers" são outras canções blues inspiradas; e assim o álbum segue impressionando, até fechar com a longa canção "Sad Eyed Lady Of Lowlands" (11 minutos de duração), marcando época como um dos grandes trabalhos de Bob Dylan. Cinquenta anos depois, ainda impressiona a qualidade impressa neste álbum!

The Beach Boys - "Pet Sounds" - considerada pela maioria uma simples banda de surf music, os Beach Boys evoluíram enormemente em termos musicais a partir do medo de Brian Wilson, seu principal compositor, viajar e excursionar. Brian se concentrou no trabalho de compor e produzir os discos da banda, que passaram a ser extremamente elaborados e avançados, rivalizando em qualidade com os álbuns dos Beatles. Este álbum, "Pet Sounds", saiu alguns meses antes de seu rival, o álbum "Revolver", dos Beatles (ver mais abaixo). Assim como o disco dos queridinhos da América, este álbum traz diversas inovações, em termos da utilização de instrumentos pouco usuais, um trabalho harmônico vocal avançado, arranjos orquestrados complexos, e muito mais, tornando-se um dos discos mais importantes da história do rock. Confira a faixa de abertura "Wouldn't It Be Nice" e a faixa "You Still Believe In Me" e perceba o trabalho vocal harmônico caprichado; veja "Let's Go Away For Awhile" e toda a sua orquestração; delicie-se com a excelente melodia de "Sloop John B"; preste atenção às diversas nuances em "God Only Knows" e na faixa-título; enfim, ouça este álbum em toda a sua plenitude, várias vezes, para perceber todas as nuances que seu principal compositor, Brian Wilson, quis criar. Um trabalho de mestre, uma obra prima, com certeza!

John Mayall & The Bluesbreakers - "Blues Breakers With Eric Clapton" - depois de ficar insatisfeito com a guinada pop que sua banda anterior, os Yardbirds, tomou, Eric Clapton resolveu deixar o grupo e se juntar ao grupo de John Mayall, que trazia em suas fileiras grandes músicos, como o próprio Mayall, o baixista John McVie e até Jack Bruce, que mais tarde formaria o Cream com Clapton (ver mais abaixo). O álbum contém algumas composições de Mayall e Clapton e diversas covers de artistas de blues e R & B. Destaque para a cover "Ramblin' On My Mind", de Robert Johnson, talvez a primeira gravação com Clapton assumindo os vocais. A participação de Eric Clapton na banda durou poucos meses: ele rapidamente se tornou insatisfeito e partiu para criar uma nova banda, ainda mais importante e influente - o Cream. A banda de John Mayall seguiu na ativa, com Peter Green substituindo Clapton. Após gravarem um álbum, Peter, o baixista McVie e o baterista Mick Fleetwood saíram para formar o Fleetwood Mac. Mick Taylor seria o próximo guitarrista, e também sairia da banda, para entrar nos Rolling Stones. John Mayall continua na ativa, no alto de seus 82 anos. Longa vida a este mestre do rock e do blues!!

The Beatles - "Revolver" - no seu sétimo álbum de estúdio, os Beatles já tinham entrado em uma fase de total inovação musical, e já estavam praticamente aposentados das apresentações ao vivo (as últimas apresentações se deram neste ano de 1966). Se a banda já tinha feito um trabalho fantástico com "Rubber Soul" no ano anterior, aqui conseguem evoluir ainda mais. Já começando a flertar com a psicodelia (que dominaria o próximo álbum, o lendário "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"), percebe-se facilmente a influência indiana com "Love You Too", uso de uma pequena orquestra em "Eleanor Rigby", uso de loops em "Tomorrow Never Knows", o sucesso da temática mais infantil em "Yellow Submarine", letras mais ambiciosas e sérias, tudo contribuiu para aumentar ainda mais a beatlemania e alcançar o topo da parada tanto no Reino Unido quanto nos EUA (mantendo a sequência incrível da banda, de discos alcançando o topo). A banda ainda iria lançar muitos discos clássicos e fundamentais para o rock, se tornando o grupo mais influente de todos os tempos. E talvez o que mais vendeu discos em todo o mundo também!

Cream - "Fresh Cream" - vimos mais acima que, após sair dos Yardbirds, Eric Clapton entrou na superbanda de John Mayall, mas não se sentiu tão feliz lá. Queria uma outra banda, e nutria admiração pelo baterista Ginger Baker e pelo baixista Jack Bruce, ambos oriundos da Graham Bond Organisation. Este encontro de virtuosos, cada um em seu instrumento, gerou uma das bandas mais influentes de toda a história do rock. Nesta estreia, temos um de seus maiores sucessos, o clássico "I Feel Free", acompanhada de algumas covers de clássicos do blues, como "Spoonful" (de Willie Dixon) e "Rollin' And Tumblin'" (feita famosa por Muddy Waters). A importância deste álbum pode ser demonstrada com um pequeno exemplo: ninguém menos que Jimi Hendrix ensaiou com a banda um pouco antes do lançamento do álbum, e certamente usou esta experiência para criar outro trio extremamente influente - o Jimi Hendrix Experience. A banda durou pouco tempo, algo em torno de três anos, e lançou apenas quatro discos de estúdio. O suficiente para influenciar diversas gerações de roqueiros com o creme musical de sua época. Simplesmente meio século do lançamento desta pérola musical!

The Who - "A Quick One" - inicialmente uma banda representativa do movimento mod da Inglaterra, o The Who foi aos poucos mudando e migrando seu som para algo mais elaborado, sem perder a veia pop nesses primeiros anos. A banda já havia impressionado bastante com seu primeiro disco, cuja faixa-título trazia um solo de baixo de John Entwistle. Durante as apresentações ao vivo, a banda já começava a criar sua reputação e seus trejeitos, incluindo Roger Daltrey girando seu microfone no ar, Pete Townshend girando os braços para tocar sua guitarra e Keith Moon totalmente alucinado atrás de seu kit de bateria, eventualmente culminando em uma destruição dos instrumentos. Este álbum pode ser considerado um disco de transição, com a banda saindo de temas mod mais pop e começando a flertar com músicas mais longas e temáticas, como a famosa mini-ópera "A Quick One, While He's Away", um dos pontos altos dos shows do The Who por muitos anos. Temos também composições de Entwistle, como o clássico "Boris The Spider", em que ele canta o refrão com uma voz diferenciada. O baixista seria um importante compositor da banda daqui em diante. A banda iria revolucionar a música nos anos seguintes, com álbuns conceituais e óperas-rock marcantes, se tornando uma das bandas de rock mais influentes e mais bem sucedidas de todos os tempos!

Estes foram alguns dos vários lançamentos do ano de 1966 - álbuns que influenciaram barbaramente o rock e estão completando meio século de vida. Um bom começo para quem não conhece os primórdios do rock, ou uma excelente lembrança para os dinossauros do rock, como eu. Um agrande abraço rock and roll e até a próxima viagem no tempo!!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...